HenriqueMelo

Psicólogo Clínico e Psicanalista

CRP 06/123471

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René Descartes: A Jornada pelo Conhecimento

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Henrique T. Melo

Descartes pensava e existia deitado em sua cama, mas não só. Vamos discorrer sobre seu método inusitado de construção de conhecimento.

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“Penso, logo existo”. 

Quem nunca ouviu essa frase, não é mesmo? O autor dela é René Descartes (que, apesar de escrito assim, lê-se: DÎCARTI), um dos maiores filósofos ocidentais de todos os tempos!

Pelo que o nome já revela, é francês. Seus trabalhos datam do século XVII e sua forma de pensar sobre o mundo é o Racionalismo, uma filosofia que diz que a razão é a melhor guia para a crença e a ação, ou seja, puramente pautada nos processos lógicos mentais.

O que vou falar para vocês hoje é sobre algo que me fascina e mais chama atenção em Descartes: seu método de pesquisa muito diferenciado para qualquer padrão científico de sua época e atualmente também – e por isso, inclusive, ele era alvo da comunidade científica. Seu método era tão diferente, tão inovador, tão único que você ficará chocado: ele saía pelo mundo conhecendo pessoas.

Pois é. Inimaginável, não é mesmo?
Pode parecer algo facilmente pensável de se fazer, mas não era algo que sequer alguém cogitaria em um mundo em que as pessoas estavam tão presas em um sistema social que as cegavam sobre todo o resto, incluindo a vida! Uma vida que passava enquanto eles faziam de tudo por dinheiro e status, guerreavam por terras, brigavam por religiões diferentes das próprias, menosprezavam as diferenças entre si e entre culturas, e… É, pensando bem… Acho que algo bem parecido com os dias de hoje. 

Veja bem, apesar de parecer algo simples, não é de fato, pois para tal feito Descartes precisou minimamente ter um desapego real de sua terra natal, de suas posses, da família e amigos e, claro, do nosso amiguinho DAS MAN (não conhece ele? Poxa, então você não leu o artigo sobre ele. Clica aqui!).
Depois disso, ele teve que se aventurar por um mundo com confortos medianos, um transporte primitivo, insegurança, violência e sem muito dinheiro no bolso (caramba, parece que estamos falando de São Paulo, né?).
Foi um feito e tanto que poucos de nós podemos dizer que também fizemos ou que faremos algum dia!

O mais incrível é a simplicidade do conceito por trás dessa decisão e método: em seu pensamento filosófico racionalista, acreditava que as respostas para o mundo estão em Si-mesmo, pautadas e ancoradas em nossa própria capacidade de pensar e cogitar sobre o mundo. Toda resposta pode ser alcançada em uma análise de si mesmo, ou em outras palavras: meditação.

Ué?
Espera e escuta, jovem Ansiógenes, porque tem sentido, sim!

Apesar de você poder deitar na sua cama e cogitar sobre o mundo do conforto do seu lar, você sempre cogitará suas questões e as responderá de acordo com o que você sabe sobre este mundo, pois nossas experiências são o nosso conhecimento (pare e reflita por um minuto: experiência = conhecimento). Descartes somente parava, deitava-se na sua cama e contemplava a vida e seus próprios pensamentos (que concedem o milagre da existência) depois de levantar essas questões com diversas pessoas, fossem elas cientistas da época, pensadores, outros filósofos, pessoas comuns, viajantes… ou seja, com todos que pudesse se apresentar e trocar algumas ideias, com pontos de vista diferentes, com histórias e sabedorias distintas. Somente então ele olhava para Si e refletia sobre o que havia experienciado. 

Ele pensava, existia e criava, não necessariamente sozinho.
Em sua cama permeavam pessoas distintas, debatendo seus pensamentos com elas e com suas próprias ideias. Sua cama estava cheia, apesar de vazia.

Não dá para não comentar que esse método de Descartes é bem próximo da Psicanálise, né?
Não querendo puxar a sardinha para o lado da Psicanálise, longe de mim! Mas já não é segredo algum que a Psicanálise tomou e toma da fonte da Filosofia desde seu início. Continuamos esta premissa aqui, inclusive neste texto.
De qualquer forma, o conceito de que sozinhos somos, em si, um universo a ser descoberto e que somente podemos chegar a esse autoconhecimento em um ambiente facilitador e socialmente é uma semelhança clara com a análise ou psicoterapia.

Pensando sobre isso, não precisamos, em nossa realidade, chegar a cogitar sair pelo mundo com uma mochila nas costas e conversando com estranhos sobre a vida e o pensamento (apesar de ser possível se você quiser e tiver um espírito livre. Não há regra.). É possível falar sobre isso com seus amados amigos, com a família que te dê abertura, com os colegas de trabalho, em uma roda de cerveja ou também com seu psicanalista preferido!

Além, sabe aquele pensamento no chuveiro ou na cama antes de dormir? Então, estes momentos são ótimos para reflexões, mas geralmente ficamos presos ao ruim, ao trauma, a vergonha, ao não dito, etc.
Nestes mesmos lugares você poderia cogitar, criar, aprender, reconhecer, modificar e até mesmo discorrer um textão que você mandará para aquele ficante indeciso, de acordo com suas experiências, reconhecimentos e todos adjetivos que quiser inserir aqui. Pensar não é um ato passivo, mas ativo.

“Penso, logo existo” é uma das mais importantes frases de todos os tempos no quesito “Conheça-te a ti mesmo” (falaremos sobre Sócrates um dia desses) e na vanguarda da mente!

O conhecimento e desejo de conhecimento de Descartes repercutem até hoje, abrindo a mente de pessoas que buscam por isto, expandindo a curiosidade humana sobre mais do que nos é dado e despertando pensadores como eu e você, que escuta com atenção até agora…

Sejamos pensadores, pois quem pensa, existe.


Mas o que é existência? O que é vida? Leia aqui sobre “O Sentido da Vida: O Mito de Sísifo” para complementar nosso pensamento de agora.

Referências Bibliográficas

Descartes, René. Discurso do Método, traduzido por J. Guinsburg. Editora Nova Cultural, 1987.

The School of Life. Philosophy – René Descartes. Vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CAjWUrwvxs4&list=PLwxNMb28XmpeypJMHfNbJ4RAFkRtmAN3P&index=12. Acesso em: 11 mar. 2023.

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