HenriqueMelo

Psicólogo Clínico e Psicanalista

CRP 06/123471

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Afeto: eu me afeto, tu se afetas…

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Henrique T. P. Melo

Afeto é a mesma coisa que Carinho?
Para toda ação, há uma reação.

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Você sabe que Afeto não significa, em sua totalidade, Carinho?

Afeto é um verbo que pode ser entendido como “que afeta”, não necessariamente algo positivo. Somos afetados o tempo todo por muita coisa, mas geralmente ignoramos que o mundo é feito de coisas boas e coisas ruins (Leia aqui sobre Bom e Ruim: As Duas Faces da Mesma Moeda).

Somos afetados quando lemos uma notícia alarmante; somos afetados quando recebemos um presente; somos afetados quando alguém falece; somos afetados quando somos elogiados. O Outro nos afeta por compartilhar conosco o mesmo espaço, por sermos seres sociais e mutuamente conectados por família, amigos, colegas, etc.

Também afetamos quando nossas escolhas trazem o prejuízo ao Outro; quando agradecemos ou nos desculpamos; quando traímos a confiança de quem nos ama; quando dizemos “eu te amo”.

Para Donald W. Winnicott, psicanalista inglês, o afeto é algo inerente ao Ser Humano. Em sua teoria traz o conceito de Holding, que basicamente é o ‘segurar’ da mãe com o bebê, que traz a ele sensação de apoio, sustentação e confiança na mãe que, até então em sua fantasia, é praticamente ele mesmo (“estes braços que me carregam e estas pernas que me levam são eu”, se ele soubesse o que seriam braços e pernas). Com o amadurecimento, a separação mãe-bebê ocorre gradualmente passando por estágios de desenvolvimento que expressam melhor o conceito de Eu-Outro, mas a sensação e cuidado, agora consciente de que houve um dia uma outra pessoa que o segurou e deu suporte quando ele não podia fazer por si mesmo, leva a um adulto confiante em si e com consciência de que o apoio mútuo é um Afeto a ser repetido.

Então, somente se minha mãe me der o “colo certo” poderei ser uma pessoa feliz e confiante

Não, pois cada Ser é único, e o Afeto é reconhecido e analisado a cada mente única que pensa nele. Irmãos gêmeos com exatamente o mesmo Afeto podem ter sentimentos diferentes quanto a mesma experiência.
O que faço em analogia aqui é: desde quando ainda nem sabíamos conscientemente o que é existir, já estávamos afetando e sendo afetados pelo Mundo

Estes Afetos levam nossas decisões a lugares e reações diferentes; mas eles existem em todos os graus, traduzidos por nós geralmente como ‘bons’ ou ‘ruins’ (ainda não leu? Clica aqui então).

A dualidade que brigamos em nossas vidas entre certo e errado e tudo que se opõe ao ‘bom’ geralmente é visto como algo a ser extirpado, mas em realidade precisamos acolhê-los, dar o suporte e colo aos nossos problemas, ansiedades e desejos julgados como errados. Com este suporte, reconhecemos mais a nós mesmos e como o Afeto é muito mais amplo.
O que, inclusive, nos faz perceber que o Mundo não é só Amor e Carinho, mas também Dor e Sofrimento, que precisam ser sentidos para serem digeridos e elaborados ao invés de jogados para debaixo do tapete.

A vida é recheada de afetos não tão bons, não tão ruins, ou até mesmo excelentes e péssimos; e é isto que nos motiva a nos desenvolvermos como Seres Humanos.

Quando lembramos que nossas ações trazem consequência ao Outro, sabemos que este será afetado, tão como nós em contrapartida.

E hoje, qual afeto você recebeu ou ofereceu ao Outro?

Referências Bibliográficas

Silva, S. O. (2014). A visão de Winnicott sobre a importância do afeto no
primeiro ano de vida. Repositório FAEMA. Disponível em https://repositorio.faema.edu.br/handle/123456789/583

Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora.

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