HenriqueMelo

Psicólogo Clínico e Psicanalista

CRP 06/123471

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Tríade Edipiana: O jogo da Frustração

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Henrique T. P. Melo

Sobre a Tríade do Complexo de Édipo e nossas frustrações.

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“Você já ouviu falar sobre a tríade edípica ou tríade edipiana?”

Ela se refere a tríade relacional do Complexo de Édipo, uma teoria psicanalítica proposta por Sigmund Freud. Segundo esta teoria, existe uma triangulação relacional entre a mãe, o pai e o bebê, em que ocorre uma situação de oposição, tanto quanto dois pontos de um triângulo sempre estão em oposição a outro. Tal como quando o pai está com a mãe, o bebê é excluído; se o pai está com o bebê, a mãe é excluída; e quando a mãe está com o bebê, o pai é excluído.

Nesta tríade, sempre alguém fica de fora, mas permanece ativo no processo. Quando você é excluído de uma relação ou atividade, isso pode acontecer apenas no momento e na situação em questão, e não de forma permanente (desde que haja uma relação afetiva satisfatória entre as pessoas envolvidas). Às vezes um indivíduo ficará de fora e outras vezes será você, o que leva a momentos de acolhimento quando juntos e de frustração quando excluídos.

A frustração é um sentimento difícil de ser aceito, e muitas vezes está relacionada à nossa reação de não querer ser excluídos de situações, conversas, reuniões, associações, amizades, sucessos, poderes, etc. Em geral, é difícil para muitas pessoas aceitar um “não”, que muitas vezes apenas significa “não agora”.

Tríade Edípica

Representação gráfica do conceito de tríade ou triangulação relacional de acordo com a teoria do Complexo de Édipo de Sigmund Freud.

O “Não” é algo difícil de ser dito por muitas pessoas, mas também em contrapartida é difícil de ser ouvido. E qual o problema de receber uma negativa?
O mundo é amplo e temos liberdade, mas a liberdade também vem com responsabilidade. Precisamos ser responsáveis pelas nossas escolhas e suas consequências para poder dizer que somos realmente livres. Caso contrário, sempre estaremos devendo algo aos outros, e sabemos bem como isso pode ser constrangedor e desempoderador, assim como ter uma dívida com o banco.

Às vezes um ‘não’, seja ele um determinante ou um temporário, pode frustrar e libertar em mesmo grau. É possível abrir a reflexão da frustração que, além de um sentimento a ser experienciado (ou seja, vivido), expande a noção do desejo, respeito, parceria e vínculos.

Vamos imaginar o seguinte cenário: 

Magda fará aniversário em breve, muito breve, e até este momento escolheu não comemorar… Até que decidiu que iria, sim, pois se vive apenas uma vez. Bem na cara do gol começou a convidar todos amigos mais próximos para um churrasco na laje.

Magda ama seus amigos, mas ama muito mais a queridíssima Amélia, sua melhor amiga e a alma de qualquer festa. Eis que infelizmente Amélia responde sem muito gracejo: “Ai miga, como você disse que não faria nada, decidi ir viajar neste dia com os meus amigos da faculdade”. Magda fica possessa e desliga na cara dela! “Como ela pode me trocar por aqueles idiotas?”.

No dia da festa Magda fala mais mal de Amélia do que aproveita o samba improvisado dos amigos acontecendo ali, naquele momento. A festa não está como deveria, não tem a mesma graça, e um incômodo incessante fica na cabeça de Magda: ‘sem Amélia aqui, nada faz sentido’.

Neste exemplo, Magda não soube lidar com a negativa de sua amiga e idealizou que Amélia a trocou por outros amigos mais interessantes, um grupo que é melhor do que ela.
Será que é isto?
Ou será que Magda (A) simplesmente não conseguiu aceitar a frustração de que Amélia (B) decidiu, naquele momento, por circunstâncias claras e não controláveis por ela, a viajar com os amigos da faculdade (C), mesmo que isto não quisesse dizer que C era melhor do que B? Por que A não compreende que B também pode optar por C sem que isso seja um problema?

Por que B teria que ficar de prontidão em caso de A decidir, mesmo que de última hora, fazer uma festa? B depende de A? A depende de B?

Quando sabiamente entendemos que neste momento devemos dar espaço aos Outros, compreendemos que também precisamos do nosso próprio. Tão como frustramos o Outro quando decidimos A por B, também precisamos ter ciência de que o Outro poderá trocar A por C. E tudo bem, desde que reconheçamos o espaço e a liberdade nas relações.

Sabe aquela frase clássica de mãe: “Você não é o centro do universo”? Entender que esse conceito de tríades relacionais não se aplica somente a você é um importante ponto de partida para compreender que todas as nossas relações são complexas e envolvem três elementos, em que sempre alguém está dentro ou fora. 

Ao longo da vida, passamos por diversas relações, tanto humanas quanto simbólicas, que podem nos trazer tanto acolhimento quanto frustração. No entanto, é crucial lembrar que não somos especiais, já que as pessoas não existem para nós ou por nossa causa. Somos apenas mais um ser humano neste mundo, que depende, mas não exclusivamente, de outros seres para existir e prosperar.

Referências Bibliográficas

FREUD, S. (1909). O Complexo de Édipo. In: Além do Princípio do Prazer. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

FERENCZI, S. (1932). O Complexo de Édipo na Psicanálise. In: Contribuições para o Conhecimento da Vida Amorosa. São Paulo: Escuta, 2003.

BAUMEISTER, R. F., & LEARY, M. R. (1995). The need to belong: Desire for interpersonal attachments as a fundamental human motivation. Psychological Bulletin, 117(3), 497-529.

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